“Eu sou das pessoas mais nostálgicas que você vai conhecer” - Essa é a frase que mais repito para quem estou começando a conhecer. Acredito que ela sirva como um bom prefácio para entender meu jeito de ser, minhas histórias. Prazer, meu nome é Maria Helena, sou uma advogada que largou tudo para criar uma empresa focada em álbuns de fotografia, para através deles contar histórias.
Papel, foto, impressão, toque, físico, história…É, nostálgica parece ser bem apurado. Sou assim desde muito nova, muito antes de conseguir perceber em mim mesma esta característica que, ao meu ver, vem de família. Cresci em uma casa onde a história a protagonista; ouvi meu pai contar a história da nossa família, da minha infância e dos meus irmãos, tudo perfeitamente documentado por ele em álbuns. Adorava ouvir os relatos sobre o tempo que ele morou em Paris e, muito antes de conhecer a Cidade Luz, eu já viajava na minha própria imaginação.
Minha avó, que teve o privilégio de viajar muito pelo mundo e, ao longo dessas viagens, colecionar peças incríveis, também me contou, e conta, muitas outras histórias. Para maior parte delas, ela ainda tem todas as peças que protagonizaram. “Esse vestido Givenchy eu usei em um jantar oferecido pelo Salvador Dalí”. Para quem adora ouvir uma história, é uma viagem no tempo e das mais reais.
Minha mãe, ao meu ver, dona de um bom gosto ímpar, também é dada a contar histórias e, pra minha sorte, viveu o suficiente para escrever um romance best seller. Uma das que mais gosto é a de quando ela foi para a Europa tentar emplacar como modelo, em uma época que brasileiras não desfilavam fora, e, depois de ver um vestido na vitrine de uma loja, teve certeza “com ele eu vou conseguir ser escalada para os desfiles de alta-costura”. Sucede que o vestido era “apenas” um Azzedine Alaïa de cair o queixo, marca que ela, jovem e de origem simples, ainda não conhecia. Um pequeno empecilho era o fato dele custar exatamente o que ela havia levado para passar um mês por lá. Comprou. Se foi o vestido ou não nós nunca saberemos, mas fato é que, depois dele, ela foi escalada para a passarela da Chanel, Paco Rabanne, entre outras marcas de igual prestígio, tendo inclusive sido modelo de prova direta de ninguém menos que Sr. Lagerfeld.
O vestido Alaïa habita hoje em uma caixa guardada a sete chaves, peça que guarda como uma joia, é um portal do tempo para ela. E por que estou contando isso tudo? Para que você perceba que aquela afirmação que abriu este texto não é sem razão. Eu sou uma pessoa esteta mas, antes disso, sou uma pessoa que aprecia e procura saber a história das coisas. E grande parte do charme que vejo em lugares, pessoas e objetos, vem dessas histórias. Quando não as encontro, o interesse rapidamente se esvai.
Certa vez fui com minha família para Nantes, norte da França, onde alugamos uma casa. Por todos os cômodos, a casa era repleta de objetos, quinquilharias e, ao longo dos dias, através de objetos desalinhados, tortos e às vezes lascados, eu ia descobrindo mais e mais sobre aquela família. Saí de lá convicta de que era isso que eu gostava: de uma casa que conta história.
Em 2008, tive a oportunidade de morar alguns meses em Paris e, depois disso, foram diversas visitas à cidade. Não demorou para que eu rapidamente me encantasse pelo estilo das francesas. Anos mais tarde, fui descobrir que encanta mulheres do mundo todo. Não são montadas, quase não usam maquiagem, o cabelo às vezes parece não ser penteado há dias, linhas de expressão aqui, uma ruga ali, as francesas celebram a imperfeição, o natural, a experiência, a história. Elas são como uma versão humana daquela casa que fiquei com minha família em Nantes. Marcas, sinais, particularidades poderiam ser vistas pela maioria como imperfeições mas, para mim, e sobretudo para elas, era sua história de vida. Não conheci os donos da casa em Nantes mas imagino que eles pensam de igual forma.